02 maio, 2007

"O que nos faltou aprender sobre o outro?
Não foi falta de entendimento que nos distanciou,
foi o medo de entender.
Nossos olhos entendidos, nossos corpos entendidos.
O que a gente entende com o corpo não se traduz, seria mentir.
Nós nos sobrecarregamos de traduções mal mentidas.
Eu não te conheci pelas coisas que você me dizia,
mas pelo desenho dos seus olhos
que acompanhava tudo o que me dizia.
Meu erro foi não ter descoberto antes
que a verdade também estava na recíproca.
Eu te transbordei de palavras
nos momentos que mais cabia meu abraço
E te abracei sem saber o que dizer
quando você queria escutar.
Depois da primeira vez que eu te abracei
parece que meu corpo sofreu um impulso químico
e absorveu um pouco da sua temperatura morna.
E se habituou com esse aquecimento
que ainda vive dentro de mim.
Agora sofre crises de abstinência
quando dá por sua falta.
Se você se calasse não iria me ferir, me enganei.
Suas mentiras e omissões, na verdade,
eram tentativas quase bem sucedidas
de não nos machucar.
Nós acabamos aprendendo a escutar nossas palavras mudas.
Coloco, agora, novamente o cd no som do meu carro
até me dar o impulso de desligar na faixa
que eu ouvia sempre me lembrando
dos bons momentos que vivi com você.
Deixo que o som e seus vestígios
que insistem em morar dentro do meu peito,
ambos, se calem.
Nossas partes sobreviventes no corpo um do outro
estão mesmo condenadas
a este seu eterno silêncio ensurdecedor."


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By Fernando Palma

2 comentários:

Anônimo disse...

Depois dá um pulinho em meu blog e veja como eu a admiro.
Foi simplesmente perfeito seu comentário.
Um encaixe, uma conclusão genial e rara.

Parabéns, menina.

Beijos.

Nil Borba disse...

Oi..vim no rastro do Marcelo!!

Concordo com ele quanto ao seu comentário..verdadeiro encaixe de peças e palavras.

Beijos e bom domingo